4 de novembro de 2009

Projetos



Tim Burton estica curta e o que vale é a tecnologia

9 - A Salvação virou longa metragem por sugestão do famoso diretor de filmes sombrios e serve como exemplo de bom uso das técnicas de ponta na animação

Há apenas quatro anos, Shane Acker recebeu o prêmio de melhor curta da Academia de Estudantes de Cinema por um filme chamado 9. Até então, a experiência profissional de Acker se resumia basicamente ao trabalho como animador de pós-produção em O Senhor dos Aneis - O Retorno do Rei. Tim Burton viu o curta do jovem diretor e, seduzido por seu visual e tema - ambos definidos como "esquisitos" -, propôs a Acker que o expandisse num longa, que ele produziria. O resultado é 9 - A Salvação.
Como em O Estranho Mundo de Jack, o espectador pode ser induzido a achar que se trata de uma animação de Tim Burton. O nome dele aparece sempre com mais relevo do que os de seus diretores - Henry Selick em Jack, Acker aqui. Mas o diretor de A Salvação garante que Burton não interferiu no processo criativo do longa - e, quando interferia, era para exortar Acker a retomar o fio de seu curta, no caso de ele estar indeciso quanto aos rumos de Salvação.

É uma animação radicalmente diferente das de John Lasseter, na Pixar - e Up, Altas Aventuras ainda está em cartaz, com expressivo êxito de público e crítica, caso você queira conferir. É curioso que se fale em Lasseter, a propósito de Up, porque ele também é produtor e supervisor, mas o processo criativo foi inteiramente entregue ao diretor Pete Docter, tão autônomo quanto Shane Acker. 9 - A Salvação está mais próximo do espírito de Wall-E: um Wall-E sombrio, dark, gótico, com Burton gosta.

Wall-E conta a história de um robozinho que vai ficando obsoleto num mundo pós-apocalíptico em que a tecnologia avança rapidamente. 9, o numeral que faz as vezes de nome, é mais marionete, um boneco não totalmente acabado - como Edward Mãos de Tesoura - que enfrenta os perigos de um mundo onde os últimos de sua espécie estão sendo caçados por uma besta também pós-apocalíptica. Há essa máquina, estranhíssima, que suga as almas dos que são como 9. O pequenino herói, face ao gigantismo da máquina, lembra Tom Cruise diante dos ETs de Guerra dos Mundos, de Steven Spielberg - e até os terráqueos, no interior dos alienígenas, devem ter sido inspirações para Shane Acker.

O longa provocou sensação nos EUA, onde a crítica deve ter problemas para perceber que Ratatouille e Up são grandes, imensos filmes. O inusitado do visual de 9 - A Salvação criam a fantasia de que o filme de Acker é mais "ousado" ou "criativo". Na verdade, toda a pesquisa de "conteúdo" de 9 parece de segunda mão. Seu forte é a tecnologia, mas ele poderá causar estranhamento aos que se encantam com o universo multicolorido da Pixar. Acker demorou quatro anos e meio para fazer, artesanalmente, seu curta. Com os recursos franqueados por Tim Burton, esse prazo se reduziu à metade para outro filme de duração quatro vezes maior.

Os bonecos de A Salvação foram modelados em 3-D, ganharam texturas no photoshop, as composições foram definidas nos efeitos pós e um avançado programa - Première - permitiu a edição, com tecnologia computadorizada de ponta. Tudo isso é certamente complexo e 9 aponta novos rumos para a animação. É o que torna o programa particularmente atrativo - para adultos, mais até do que para crianças. Você pode comparar com outras animações, de outras escolas, já em exibição nos cinemas. Up, da Pixar, e também Tá Chovendo Hambúrguer, da Sony, ambas em 3D. Nesta sexta também entra O Golfinho, a mais caracteristicamente "infantil" de todas essas animações. Essa diversidade é que faz a riqueza dessa mídia tão particular que muitos crítiocos e profissionais chegam a definir a animação como "oitava arte".

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